Soldadinho de chumbo

Mayara Lua
2 min readFeb 28, 2021

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Com frequência me sinto
acorrentada a esse lugar
Não importa o que eu faça
Sempre vou voltar para cá

Nasci quebrada
Torta
Com engrenagens faltando
Nem isso fiz sozinha
Saí de cesariana

Não sei como andar para frente
Estou destinada a circular

Lido com as mesmas coisas
De novo
De novo
De novo

Em círculos
De novo
De novo
De novo

Enceno as mesmas tragédias
De novo
De novo
De novo

Aprendo
De novo
De novo
De novo
as mesmas lições

Mas não adianta
Continuo a circular

Choro
De novo
De novo
De novo

Grito
De novo
De novo
De novo

Morro
De novo
De novo
De novo

Não sei como parar
Não sei como parar
Não sei como parar

De novo
De novo
De novo

Achei que fosse como Penélope
Presa a um negro sudário
Enquanto tecia fracasso
Fazia aos céus lamúrias sem fim

A espera de um Arqueiro
Que me livrasse do Sudário
Dos arruaceiros
E de mim

Nenhum arqueiro me salvou

Um dia queimei o sudário
E me vi como Prometeu
Castigada por deus
Correntes
Suplício
Nada

Mas quando escapei da pedra
Passei a lutar como Sísifo
Sempre a empurrar a mesma rocha
Às vezes tão perto do cume
Que finalmente se parece uma vitória

Um alívio

Um Oásis

Finalmente

Mas então caindo
E recomeçando
Sem nunca che

O mesmo tormento
De novo
De novo
De novo

No fim das contas talvez seja apenas
Um soldadinho de dar corda com uma perna quebrada

Um soldadinho sem corda
Não conseguiria andar

Um soldadinho sem pernas
Não conseguiria andar

Já eu
Ando
Ando
Ando
Sem parar

Pena que nunca vou chegar
A nenhum lugar

Desconheço o autor da imagem :(

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Mayara Lua

Eu me contradigo? Muito bem, então, eu me contradigo; eu sou vasto - eu contenho multitudes." (Walt Whitman) (insta:mayart.b)