Soldadinho de chumbo
Com frequência me sinto
acorrentada a esse lugar
Não importa o que eu faça
Sempre vou voltar para cá
Nasci quebrada
Torta
Com engrenagens faltando
Nem isso fiz sozinha
Saí de cesariana
Não sei como andar para frente
Estou destinada a circular
Lido com as mesmas coisas
De novo
De novo
De novo
Em círculos
De novo
De novo
De novo
Enceno as mesmas tragédias
De novo
De novo
De novo
Aprendo
De novo
De novo
De novo
as mesmas lições
Mas não adianta
Continuo a circular
Choro
De novo
De novo
De novo
Grito
De novo
De novo
De novo
Morro
De novo
De novo
De novo
Não sei como parar
Não sei como parar
Não sei como parar
De novo
De novo
De novo
Achei que fosse como Penélope
Presa a um negro sudário
Enquanto tecia fracasso
Fazia aos céus lamúrias sem fim
A espera de um Arqueiro
Que me livrasse do Sudário
Dos arruaceiros
E de mim
Nenhum arqueiro me salvou
Um dia queimei o sudário
E me vi como Prometeu
Castigada por deus
Correntes
Suplício
Nada
Mas quando escapei da pedra
Passei a lutar como Sísifo
Sempre a empurrar a mesma rocha
Às vezes tão perto do cume
Que finalmente se parece uma vitória
Um alívio
Um Oásis
Finalmente
Mas então caindo
E recomeçando
Sem nunca che
O mesmo tormento
De novo
De novo
De novo
No fim das contas talvez seja apenas
Um soldadinho de dar corda com uma perna quebrada
Um soldadinho sem corda
Não conseguiria andar
Um soldadinho sem pernas
Não conseguiria andar
Já eu
Ando
Ando
Ando
Sem parar
Pena que nunca vou chegar
A nenhum lugar